O sistema de correia dentada banhada a óleo é uma tecnologia que ganhou espaço no mercado com o passar dos anos. Porém, como todo sistema mecânico, um dia é preciso realizar a manutenção, e, quando as manutenções começaram a se fazer presentes, a correia dentada banhada a óleo passou a ser uma dor de cabeça.

Correia dentada banhada a óleo em funcionamento.

O que é a correia

Correia é uma cinta de material flexível feita, comumente, de borracha vulcanizada e camadas de lona. Sua função é transmitir a força de uma polia ou engrenagem para outras.

Sua origem data da Revolução Industrial, onde a demanda por produtos em grande escala trouxe a necessidade de uma produção aprimorada com sistemas mecânicos confiáveis, robustos e duradouros.

Assim, as correias foram utilizadas nas indústrias para que o sistema de engrenagens e polias dos maquinários operassem em sincronismo, proporcionando o funcionamento ideal dos maquinários.

Ainda, podemos definir as correias como elementos de transmissão que possuem baixo custo envolvido, manutenção mais barata e facilitada. Não é à toa que são bastante empregadas nos automóveis.

Correia em funcionamento.

A engenharia automotiva avançou com o passar dos anos. Porém, dois sistemas que se mostraram eficientes para fazer o sincronismo do motor são a correia dentada e a corrente. Já a correia dentada banhada a óleo é considerada, por muitos, um fracasso de engenharia.

Primeiro veículo com correia dentada

O primeiro automóvel no mundo a utilizar a correia dentada de borracha foi o Glas 1004, um automóvel pequeno de duas portas, quatro lugares e tração traseira, fabricado pela Hans Glas.

Glas 1004 - primeiro veículo com correia dentada.

A Hans Glas foi fundada em 1883, em Dingolfing, na Alemanha, por Hans Glas, e iniciou suas atividades na construção de máquinas agrícolas. Posteriormente, fabricou motonetas e, em seguida, automóveis.

No ano de 1960, Leonard Ischinger, desenvolvedor de produtos, foi trabalhar na Hans Glas após ter trabalhado na BMW.

Ele desenvolveu um motor de comando de válvulas no cabeçote (OHC) com um sistema de sincronismo diferente. Ao invés de funcionar por corrente, funcionava por uma correia dentada. O motor possuía refrigeração a água, contava com 992 cilindradas e era capaz de gerar 42 cavalos a 5000 RPM.

O protótipo do Glas 1004 foi apresentado no Salão do Automóvel de Frankfurt em setembro de 1961. Já a produção em massa começou em 1962. Em 1966, a BMW comprou a Hans Glas para obter acesso às patentes. Afinal, a solução inovadora de utilizar correia dentada no motor de um veículo chamou bastante atenção, despertando interesse na BMW.

Motor do Glas 1004 - correia dentada

Após a aquisição da Hans Glas pela BMW, o pouco portfólio de produtos da Hans Glas logo foi extinto. Nos últimos anos de produção, os veículos receberam o emblema da BMW e foram chamados de BMW Glas.

No Brasil, o primeiro veículo a possuir correia dentada foi o Chevrolet Chevette, em 1973.

Primeiro motor com correia dentada banhada a óleo

Uma solução que visava proporcionar maior durabilidade acabou se tornando uma fonte de problemas para os consumidores, e tudo teve início com a Ford.

motor Duratorq 1.8 TDCINos anos 2000, a Ford apresentou o motor Duratorq 1.8 TDCI, um motor diesel que equipava veículos na Europa.

Motor Duratorq 1.8 TDCI com correia dentada banhada a óleo.

Antes, este motor possuía uma corrente que saía do virabrequim até a bomba injetora de diesel. Em seguida, uma correia dentada seca de borracha saía da bomba injetora de diesel e ia para a árvore de comando das válvulas.

Posteriormente, a Ford instalou neste motor uma correia dentada de borracha que saía do virabrequim e ia para a bomba de diesel, eliminando a corrente.

A solução visava proporcionar menos ruído, redução de atrito, maior durabilidade e desempenho. Dentre esses objetivos, o principal era a vida útil prolongada, visto que a correia dentada banhada a óleo poderia ser utilizada até 240 mil quilômetros.

Os materiais empregados na correia dentada banhada a óleo eram a borracha de acrilonitrilo butadieno hidrogenado (HNBR) e, em seu revestimento, o politetrafluoretileno (PTFE).

O uso desses materiais tinha como finalidade garantir resistência química, térmica e ao desgaste. No entanto, na prática, não durou bastante.

Após a Ford, outras fabricantes usaram a tecnologia da correia dentada banhada a óleo em seus veículos, como a Renault, Volkswagen e Chevrolet.

No Brasil, o primeiro automóvel a usar a correia dentada banhada a óleo foi o Ford Ka 1.0 de três cilindros, mostrado ao público em 2014. Na época, a Ford divulgou que a durabilidade do sistema era de 10 anos ou 240 mil quilômetros rodados, o que acontecesse primeiro.

Realizando um comparativo entre os tipos de mecanismos para o sincronismo e funcionamento do motor, a corrente metálica tem durabilidade superior a 200 mil quilômetros, porém gera mais ruído.

A correia dentada comum possui uma durabilidade entre 60 e 100 mil quilômetros, é mais silenciosa e leve. Já a correia dentada banhada a óleo é silenciosa, leve e possui uma durabilidade maior que as correntes. No entanto, na prática, será que é isso mesmo?

Se a correia banhada a óleo possui durabilidade maior que a corrente metálica, então por que seu uso não agradou os consumidores?

Para entender isso, é preciso tocar em um ponto muito importante: a manutenção do veículo. Teoricamente, basta seguir a manutenção à risca, bem como a recomendação do óleo a ser usado para a correia não ser danificada pelo lubrificante.

A troca da correia dentada deve ser feita de acordo com o que estipula a fabricante do veículo. Afinal, é um componente que, com o tempo, se desgasta. Um desgaste excessivo pode fazer a correia arrebentar, o que leva ao assincronismo do motor. Assim, os pistões podem bater nas válvulas, danificá-las, ocasionar a perda das bielas e condenar o motor.

Então, levar o carro para fazer as manutenções na concessionária ou em um mecânico experiente que segue à risca as recomendações da fabricante já deveria ser garantia de durabilidade do sistema e não ocasionar defeitos.

A intenção era plausível. Os primeiros proprietários de veículos com correia banhada a óleo sequer precisavam se preocupar com a durabilidade da correia, devido à alta quilometragem que ela era capaz de suportar.

Mas os consumidores estão fugindo de veículos com correia banhada a óleo.

O sistema de correia banhada a óleo coloca a correia em contato direto com o lubrificante. É preciso que o óleo seja especial para não ocasionar danos na correia. Afinal, ela fica em constante contato com o óleo, até mesmo quando o veículo está parado com o motor desligado.

Mas, mesmo com as recomendações das fabricantes, por que a correia dentada banhada a óleo não funcionou?

Acontece que muitos proprietários de veículos com correia dentada banhada a óleo ao redor do mundo compartilham experiências ruins provenientes deste mecanismo.

Muitos alegam que a correia dura muito menos que a quilometragem estipulada pelas fabricantes. Ainda, mesmo com a utilização do lubrificante recomendado, a correia é danificada, soltando detritos devido ao constante contato com o óleo.

Esses detritos se acumulam no cárter e obstruem a passagem do óleo para a peneira, sendo preciso realizar limpezas para que o motor não apresente problemas por falta de lubrificação.

Além disso, a temperatura contribui para o desgaste. O óleo atinge uma temperatura, em condições ideais, entre 80 graus Celsius e 100 graus Celsius. Em motores turbocompressores, a pressão das turbinas também era mais um fator que ocasionava o desgaste na correia.

Ainda, a gasolina, quando é queimada nos cilindros do motor, uma pequena parte da queima passa para o cárter, e com a gasolina de péssima qualidade, acaba por danificar a correia dentada banhada a óleo.

A correia dentada banhada a óleo foi uma solução que visava maior durabilidade, mas, na prática, mostrou-se o contrário.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Conteúdos